Sweet Bordeaux – A doce Bordeaux


FRANÇA BORDEAUX VINHEDOS 2

Nos vinhos França é França e não tem para ninguém. Sempre que vamos estudar seus vinhos mais e mais surpresas e informações aparecem.

Mais sub-regiões saltam aos olhos. Mais especialização aparece. Mais vinhos especiais surgem e desfilam pela nossas bocas ávidas em experimentá-los. Mais elegância, mais maridaje/combinações surgem com delícias postas na nossas mesas.

A ideia de escrever um livro sobre os vinhos doces foi ajudar a eliminar o preconceito que muitos têm com este estilo de vinho. Os vinhos doces e os roses são os que mais sofrem. Uns acham caro demais, veremos na sequência por que, outros pensam que são vinhos menores, Deus eles não sabem o que falam e outros, simplesmente passam por eles se despertar a menor atenção.

Ao estudar sobre este estilo, eis que me deparo com a recém criada sub-região de Bordeaux, Sweet Bordeaux ou Bordeaux Doce. O Creme dos Cremes em termos de vinhos doces.

Bordeaux é a segunda maior região vinhateira da França só perdendo para o Languedoc. E como metro faz diferença no terroir de Bordeaux vem de tudo. Desde vinhos para poucos em termos financeiros como alguns vinhos ordinários que pega carona na fama da região. Há de todos os estilos possíveis, desde os vinhos doces, passando pelas borbulhas (Crémant) e chegando nos tintos dos consagradíssimos Châteaux.

Para não alongar a publicação temos as seguintes informações fundamentais de Bordeaux.

FRANÇA BORDEAUX MAPA 1

O terroir de Bordeaux é, resumidamente, isto:

1- O encontro de três massas de água. Oceano Atlântico, os rios Garonne e Dordogne que irão formar o Girronde. Umidade nos traz um clima que nem sempre é muito gélido nem sempre muito quente.

2- O solo formado de cascalhos em várias camadas desde os tempos pré-históricos até os dias de hoje pelos sedimentos advindos dos rios Garonne, vindo de sudoeste para nordeste e o Dordogne que vem dos Pirineu, os dois trazem muitos sedimentos. Além, é claro, do surgimento do subsolo oceânico da técnica dos holandeses em drenar o mar para ter mais terra. Graves uma das sub-regiões significa cascalho em francês.

3- A divisão da grande região em cinco:

Margem esquerda, do Gironde, acima da capital do Departamento, Bordeaux, chamada a grosso modo de Médoc, dividia em duas: Médoc e Haut Médoc. Terra e berço da Cabernet Sauvignon.

Margem direita do Gironde, Pomerol, Fronsac, Sant Emillon, terra e berço da Merlot e onde a nativa do Vale do Loire, Cabernet Franc melhor se adaptou. As três formam o corte bordalês.

Acima de ficam Blaye e Bourg onde tudo começou.

Abaixo da junção dos rios, portanto, do Gironde temos Entre-Deux-Mers, terra dos grandes brancos de Bordeaux, Premieres Cotes de Bordeaux e Graves com suas sub-divisões Céron, Barsac e Sauternes.

O que nos interessa para o momento é Sweet Bordeaux esta região ao sul de Bordeaux, mais quente, ensolarada e com os vinhedos plantados as margens do rio Garonne.

MAPA DE SWEET BORDEAUX

FRANÇA SWEET WINES MAP

Sei que pontualmente há outras regiões no mundo que podem produzir até vinhos doces melhores, como Tokaj, Hungria. Agora em qualidade e quantidade, nem pensar. Aqui, menos de uma hora de carro ao sul da capital do Departamento de Bordeaux este é o centro nevrálgico destes vinhos mágicos.

Onze A.O.C Apelações de Origem Controlada podem produzir dois estilos de vinhos, o Moelleux (Doce) e 0 Liquoreux du Vignoble (Licoroso) são produzidos, nestas A.O.C: Cadillac,Louoiac, Sainte-Croix-du-Mont, Cérons, Barsac, Sauternes, Premières-côtes-du-Bordeaux, Saint-Macaiere, Bordeaux-Supérieur, Sainte-Foy-Bordeaux e Graves-Supérieure. Na França um vinho doce é um vinho com teor de açúcar entre 12-45 gramas/litro e o licoroso mais de 45 gramas/litro.

FRANÇA BARSAC

TERROIR

Solo super bem drenado pelo cascalho, vejam foto acima, os Graves. Clima úmido pela manhã e ensolarado durante os dias de verão. Geografia. Vinhedos plantados regiões mais baixas as margens, direita e esquerda, do rio Garonne assim nos meses que antecedem a colheita há uma espessa neblina que somente se dissipa ao final das ensolaradas e quentes manhãs favorecendo o surgimento da Botrytis Cinerea.

BOTRYTIS CINEREA

UVA SEMILLON

A foto demonstra o início do trabalho do fungo Botritys Cinerea num cacho de Semillon.

Mas é bom só para o vinho, porque para as demais culturas é uma praga, trata-se da Botrytis Cinerea, um fungo que ataca a uva quando determinadas condições de calor e humidade aparecem no final da maturação do fruto. A famosa podridão nobre.

No início causa pequenos furos na casca, desidratando o bago. Na medida que vai avançando vai enfeiando o cacho, tal qual na foto, mas não se preocupem, deste patinho feio sairá um vinho único, os inefáveis vinhos doces botritizados.

Interessante destacar que a botritis não ocorre em todo o lugar, pelo menos não com a frequência anual que ocorre em alguns locais, como Bordeaux e em Tokaj, Hungria.

Agora, não confundi-los com Late Harvest, estes vinhos doces de colheita tardia, mais comuns e muito menos qualificados.

As uvas que compõem os vinhos da Sweet Bordeaux são elaborados com a Semillon no percentual de  80% ou mais pela sua alta sensibilidade a ser atacada pela Botrytis Cinerea esta viajou bastante. Saiu de Bordeaux, onde é a uva mestrea dos grandes vinhos doces de Sweet Bordeaux e foi parar na Austrália e Nova Zelândia, principalmente,  onde produzem belos e longevos vinhos. Lá produzem uma revolução, Nos vales de Maclaren e Barossa (Austrália) e na ilha sul da Nova Zelândia, ela retoma seu lugar de destaque.

Os vinhos de guarda elaborados com esta casta são feitos para desenvolverem seu potencial em 10 anos ou mais. O segredo dos vinhos brancos é a acidez, neste caso agressiva. Com o tempo desabrocham em vinhos exemplares, algo como mel, nozes e uma doçura para contrapor com a acidez ainda viva.

Depois, 20% ou menos da Sauvignon Blanc, que mesmo colhida tardiamente ainda mantém acidez necessária e a Muscat a nossa Moscatel pelo seu aporte de aromas. Estas colhidas estilo colheita tardia quando as uvas secam no pé.

PREÇO

Vejam a foto acima. Cada pé de videira produz em média uma garrafa de vinho tranquilo (normal). Menos de 1/2 garrafa no estilo colheita tardia. E uma taça de vinho quando botritizadas. Depois a colheita é manual. Grão a grão para que sejam vinificados só os melhores. Por duas vezes ou mais um exército de trabalhadores verificam cacho por cacho bago por bago. Soma-se tudo isto a um dos hectares mais caros no mundo para o vinho e teremos o preço justificado desta joia.

O VINHO

Este é o topo de linha. Senhor dos Senhores e Mestre dos Mestres.

CHÂTEAU Y'QUEM TOP

Importante destacar que estas uvas possuem alta concentração de açúcar, pouco líquido e acidez ainda muito viva, principalmente no caso das Semillon botritizadas e da Sauvignon Blanc, estilo Colheita Tardia. Este o charme destes vinhos. Concentração de aromas chega ao máximo. De lá sai um vinho untuoso, amarelo ouro e bom demais. Ao bebê-los imagine um caleidoscópio de sensações. Como são vinhos muito aromáticos temos grandes concentrações de frutos secos, nozes, algo de damasco e laranja ao fundo.  

Como na ponta da língua sentimos o doce e ao fundo o ácido eles começam doces e terminam ácidos com um final de gole, sensação do vinho na boca, que perdura por muito tempo.

Para vinhos deste naipe nada melhor que Maria Callas.

 

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