A Uva Primitivo. Uma Vida Uma História


UVA PRIMITIVO

A Puglia, o calcanhar da Itália,  além das oliveiras centenárias,  seu belíssimo mar nos traz a Primitivo. Uma das mais importantes uvas do sul da Itália. 

Também conhecida nos Estados Unidos como a Zinfandel, que, aliás, os americanos a tem como casta ícone. Uva antiga na região da Puglia que após a silenciosa revolução no plantio e técnicas de produção nos trazem vinhos muito bons.

Outros dizem ser ela nativa da Croácia com o nome de Crjenak Kastelanki. Verdade é que é uma uva do Cáucaso e espalhou-se pelo Mediterrâneo encontrando na Puglia solo ideal.

Apareceu nos Estados Unidos com nome germânico (Zinfandel) graças ao Império Austro – Húngaro que nos seus tempos de domínio a trouxe da Croácia. E os imigrantes a levaram para a Califórnia.

O que nos interessa é que gosta de muito sol e tem o amadurecimento tardio perfeitamente adaptada tanto ao clima da Puglia como da Croácia onde ainda é uva de suprema importância.

ONDE A PRIMITIVO ESTÁ?

CROÁCIA – VINHOS DA COSTA DO ADRIÁTICO

A Croácia, como todos os países imediatamente a leste do Mar Adriático, como Montenegro, Eslovênia que vimos recentemente aqui  tiveram histórias parecidas.

Primeiros os gregos estiveram lá com toda a sua cultura de Baco. Grécia, início de toda a história da cultura e civilização ocidental. Primeiro eles, depois os Romanos a difundi-la. Só lembrar o radical latino Vinum, talvez no mundo ocidental, poucos países não usam este radical para falar vinho.

A influência grega não para só no nome ou nas divindades antigas como Dionyssus (Baco), também técnicas de plantio e uvas nativas da Grécia fora espalhadas pelo ocidente.

Sim. Eu sei que as primeiras vinhas foram descobertas na atual Georgia, nas beira do Mar Negro, no Cáucaso. Mas quem vivia lá nesta época? Os gregos. Já ouviram falar de Gregos Pônticos? Eram eles que lá habitavam na hoje Croácia. 

Depois vieram os Romanos tomaram conta desta região e introduziram técnicas inovadoras no desenvolvimento dos vinhedos da Dalmácia. Com a derrocada do Império Romano chegaram os povos do norte, entre eles os Ostrogodos. Com a divisão do Império Romano, Justiniano traz para si a Dalmácia. Lembrando que a Igreja Ortodoxa está umbilicalmente ligada ao Império Romano Bizantino.

Findo o Império Romano chegam tribos eslavas, entre elas os Croatas. Na Idade Média novos polos de desenvolvimento da cultura do vinho. Tudo voltado para a elaboração do Sagrado Vinho para as missas diárias.

Com a chegada dos turco pela expansão do Império Otomano pelo século XV, por sorte foram tolerantes com os católicos e seus ritos, entre os quais o Vinho da Santa Missa. Lembrando que o Alcorão proíbe o álcool.

Sob o domínio do Império Austro-Húngaro a viticultura floresceu e deu mais um enorme passo para tornar-se a bebida oficial da Croácia. Tudo mudou com a chegada da filoxera na Europa central. A devastação de vinhedos na França forçou a busca pelos gauleses de novos horizontes livres da praga, entre os quais a Croácia. Novo impulso em tecnologia e modernidade. 

Por fim a eclosão da I Guerra Mundial o término do Império Austro-Húngaro e a formação da Iugoslávia, II Guerra Mundial, comunismo e guerras de Independência da Croácia.

O que quero dizer com a longa história acima é que os vinhos fazem parte da vida dos croatas desde o seu nascimento. E isto é lindo demais.

E uma das tintas mais representativas do país é a Plavac Mali a mãe da Primitivo. E na chamada região dos Vinhos da Costa do Adriático ela surge com toda a força e graça que Deus lhe deu. Os grandes vinhos croatas vêm destas regiões banhadas pelo sol poente. Íngremes ladeiras viradas para o Adriático são literalmente tomadas de vinhedos.

Clima mediterrâneo típico com longas horas de sol na fase da maturação do fruto, tempo seco com solos muito rochosos e pedregosos é terroir que  pede uvas tinta que ama o sol para poder amadurecer sua forte carga de taninos.

ITÁLIA – PUGLIA

A grande uva tinta da Puglia, sul da Itália é a Primitivo. Desde sempre foi e será. O clima semelhante ao da costa da Croácia garantem a qualidade de terroir que ela precisa. Entretanto, há uma sub-região fantástica para esta uva que alguns rótulos estampam com orgulho. Manduria. 

A mais representativa Primtivo vem da Manduria, região ao sul da Puglia e a 10 quilômetros do Mar Jônio. A Primitivo di Manduria é um vinho de corpo médio a denso, de cor escura e acidez média/alta, o que se traduz em vinhos de boa longevidade e muito companheiros para a variada gastronomia local.

Eu gosto muito dos vinhos desta casta, principalmente, pelo preço, sensivelmente mais baratos que seus afamados irmãos do norte. Realmente recomendo que se  experimente vinhos com esta casta.

EUA – CALIFÓRNIA

NAPA SONOMA

Padrão das vinícolas da região. Assusta um pouco tanta imposição arquitetônica. São lugares lindos e caros. Assim como seus vinhos bons e caros. 

Ficam em torno de 100 quilômetros a noroeste de São Francisco e a 5o do Pacífico. Verão ameno, dia quente e noite não tanto, invernos bem menos rigoroso do que a região ao norte, favorecem as tintas em geral.

Em especial a Zinfandel esta é a uva chave por aqui.

Sonoma, a 80 quilômetros ao norte de San Francisco e 40 do Pacífico, junto com Napa forma o duo de ouro dos vinhos americanos. Semelhante à vizinha Napa, em Sonoma as vinícolas com alto estilo arquitetônico com grandes tours, visitação paga e bem paga, enfim tudo o que o marketing americano pode nos proporcionar, de bom e de ruim, lá estão.

No terroir se difere um pouco de Napa porque a região é bem maior com vários micro-climas que favorecem a uma ou outra cepa. Há região montanhosa, região perto do Pacífico, região mais ao sul, enfim, para todos os gostos e estilos.

Primitivo, firme e forte me lembra um bom blues. Nada melhor que Albert King.

 

 

 

 

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